Revolução na produção de café





Revolução na produção de café
Irmãos impulsionam movimento para mudar o perfil do café conilon e dar o status de bebida aos grãos até então usados em mistura
Da lavoura até a xícara, o café conilon – que completa 100 anos de cultivo em solo capixaba – vive uma nova era no Espírito Santo, marcada pela delicadeza do sabor e aroma graças aos cuidados no cultivo e manuseio idênticos ao tratamento dado aos mais refinados e caros cafés ao redor do planeta.

 Em São Domingos do Norte – município de 8 mil habitantes do Noroeste capixaba – três irmãos “d o u t o re s ” no assunto impulsionam a revolução genética e tecnológica do conilon, que levou o Estado a ser o segundo maior produtor mundial de conilon, com 9,3 milhões de sacas na safra de 2012, de acordo com o Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV).

 Juntos, Francisco Giovanni Caser Venturim, 35, Isaac Bento Caser Venturim, 32, e Lucas Henrique Caser Venturim, 31, lutam para que o conilon especial seja reconhecido como bebida pura e não apenas mistura ou blend do “primo rico” café arábica.

 Os irmãos foram destaque no campo e premiados com as três melhores amostras entre os 20 finalistas do 9º Concurso Conilon de Excelência da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel).

 O pai deles, Bento Venturim, 64 anos, ficou em 9º lugar na classificação geral. Bento e a mulher, Rosa Maria, 58 anos, são os maiores incentivadores dos filhos no aprimoramento

do conilon.

 Giovanni, Isaac e Lucas administram a Fazenda Concorde no Córrego Sabiá, com 175 mil pés de café em 70 hectares, cuja produtividade média é de 80 sacas por hectare.

 “Nos chamaram de malucos, quando investimos nos aparelhos para descascar café, há um ano. Mas a saca do cereja descascada vale 20% a mais do que a comum”, destaca Isaac.

 Para Giovanni, ainda são poucos os produtores que adotam o descascamento, essencial no avanço do conilon. “Sabe-se que a torrefação usava 25% de conilon como liga, hoje chega a ultrapassar 50%”.

 Lucas diz que a ideia é mostrar que é possível conseguir conilon de qualidade pela renovação dos cafezais, adubação, irrigação fertilizada, além de equipamentos para beneficiar os grãos. “O desafio é animar o cafeicultor a investir no aumento da produção”, disse.


Francisco Giovanni

> TEM 35 ANOS

> GRADUADO emGestão Financeira. Cuida do controle administrativo e financeiro da propriedade. É casado com Rosiane, 32.

Isaac Bento

> TEM 29 ANOS

> PÓS-GRADUADO em Administração Rural, fica à frente dos investimentos. É casado com Patrícia, 29, e tem dois filhos

Lucas Henrique
> TEM 31 ANOS
> ENGENHEIRO CIVIL. Atua na área de planejamento, tecnologia e projetos. É casado com Weslayne, 31, e tem dois filhos.


Diferenças entre os tipos de café

Café Conilon (Coffea canephora) ou Robusta

> É BASTANTE utilizado na fabricação de café solúvel.

> O NÍVEL de cafeína é o dobro do que há nos cafés arábicas.

> COMUMENTE usado como mistura “blend” nos café tradicionais empacotados de supermercado.

> A ÁRVORE É MAIOR, as folhas são grandes e enrugadas

> NO CAFÉ ESPRESSO, é responsável pela cremosidade e pela espuma. Café Arábica (Coffea arabica)

> POSSUI AROMA INTENSO, diversos sabores com inúmeras variações de corpo e acidez.

> A ÁRVORE É menor, as folhas são lisas e pequenas.

> EXISTEM o arábica Rio e o Rio Zona, que têm gosto intenso.

> PRODUZ CAFÉS finos e requintados.

> O GOURMET é considerado um excelente café e mais completo na questão de aroma, doçura e acidez.

Números do Conilon no Estado

> A SAFRA DE 2012 foi de 9,3 milhões de sacas de café conilon no Estado.

> ISSO EQUIVALE A 6,5% do café cultivado no mundo.

> REPRESENTA 76% da colheita do conilon no Brasil.

> A RECEITA é de R$ 2 bilhões por ano.


Fonte: Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) e Incaper


Grãos mais valorizados

A Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha (Cooabriel) recebeu nesta safra mais de 1 milhão de sacas de café conilon, pouco mais de 10 mil de cereja descascada, material apropriado na torrefação do conilon especial, por isso, bem mais caras, destaca o presidente da Cooabriel, Antônio Joaquim.

 “Cerca de 600 mil já foram comercializadas.O volume de cereja descascada cresceu bastante. O conilon, ou café robusta, mudou muito nos últimos 10 anos. Era visto como um café de mil e tantos defeitos e destinado a fazer café solúvel. Mas a evolução é visível ano a ano. Não tem volta”, afirma.

 Apenas 19 produtores estão equipados para produzir o conilon especial no Noroeste capixaba e o vencedor do concurso de excelência Lucas Venturim diz que de nada adianta equipamentos se não tiver genética, plantio em linhas, tecnologia de irrigação e adubo para gerar grãos uniformes.

 “A mesma tabela que classifica o arábica serve para avaliar o nosso café. O que exigimos é o mesmo tratamento para o conilon”, disse Lucas. A prática da pós-colheita de higiene e secagem com fogo indireto conta pontos na produção.

“Recusamos vender a saca do cereja descascado a R$ 370”, revela Venturim. O conilon está cotado a R$ 270 pela Cooabriel.

 O renascimento do café no Noroeste do Estado após ter mais da metade do parque cafeeiro erradicado nos anos 60 entusiasma o mercado interno e exportador, segundo o presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), Luiz Antônio Polese.

 O CCCV concentra 45 exportadores capixabas, entre eles os 10 maiores do Brasil, e tem a delegação de certificar o café que vai para o exterior.

 O especialista na certificação de café Renildo da Silva Reis analisa ao menos 200 xícaras por dia e percebe a evolução na doçura, acidez, aroma e corpo do conilon. “Estamos no caminho certo”, diz.


“É um café fino e de boa aceitação”

“O padrão de qualidade atual do grão de café conilon cereja descascado é incontestável. O conilon, ou robusta capixaba, sem sombra de dúvida está em ascensão. A quantidade de sacas de cereja descascada ainda é pequena no abastecimento do mercado, mas ganha em preço. É um café fino, aprovado no teste da xícara e de boa aceitação no mercado internacional.

 Os concursos promovidos pela Cooabriel incentivam o produtor a renovar os cafezais com espécies clonais mais produtivas, além dos cuidados na fase de preparo do café, na colheita, limpeza e na secagem. Tudo isso influencia no resultado final.

 Os três irmãos que receberam o prêmio em São Domingos do Norte viraram especialistas no assunto em pouco tempo. Agora, lutam para o reconhecimento do conilon. O entusiasmo dos produtores é visível com essa nova fase do conilon. Estão usando a mesma técnica de lavagem e descascamento que é utilizada há anos no arábica.

 Vale ressaltar o trabalho do cafeicultor Dário Martinelli no processo de reintrodução do conilon na década de 60 e o caminho seguido pelos novos produtores”.
Luiz Antônio Polese, presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV)










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